A audição decorreu com grande sucesso no Centro Cultural Franciscano, para uma plateia que excedeu a própria lotação do auditório, tendo muitas pessoas de ficar de pé.
Sigamos um dos artigos que a Ecclesia publicou a propósito da audição:
Audição pública «Dar voz aos pobres para erradicar a pobreza» juntou sociedade civil, políticos e igreja para reflexão conjunta sobre pobreza
Teresa Mota Costa, 42 anos, vive em lutas burocráticas diárias com a Segurança Social. Desempregada, tem a seu cargo dois filhos. Um deles, o André de 15 anos, tem paralisia cerebral. Vive sempre no limite, pois não tem dinheiro suficiente para elevados encargos. Não tem créditos porque também não tem dinheiro. Arrenda uma casa e, com a ajuda do seu marido, taxista, vão fazendo face a batalhas diárias, agravadas por situações financeiras de familiares.
Marisa Correia e Ana Ribeiro, ambas sociólogas, trabalham na Rede Social de Loures, como funcionárias a recibos verdes. Não têm subsídio de Natal, de férias, de alimentação ou transportes. Não têm direito a seguros, subsídio de desemprego ou a indemnizações. Trabalham a tempo inteiro, com funções a tempo inteiro, num posto de trabalho fixo, que apesar de a recibos verdes, não é temporário, mas permanente. As duas técnicas são obrigadas a descontar do seu ordenado 20% para o IVA, a fazer 20% de retenção na fonte e a pagar, mensalmente, 150 euros à segurança social.
Pedro Jorge Santos fala de uma pobreza diferente. Toxicodependente, foi marginalizado e sentiu-se sem auto estima durante muitos anos. Há cinco anos que trabalha junta da instituição que lhe deu voz e se interessou por ele, a Comunidade Vida e Paz. Mais do que a ajuda financeira aponta a importância dos afectos e da atenção, e foram esses sentimentos que lhe salvaram a vida.
Domingas Augusto é guiniense, mãe de três filhos e responsável por um enteado. Alugava uma casa, e o seu companheiro tinha a responsabilidade de pagar 400 euros de renda mensal. Mas não o fazia. Com dívidas acomuladas, deixou-a. Foi despejada da sua casa e teve de resolver a sua vida e a dos filhos ao seu encargo. Alugou uma casa pequena, onde as quatro crianças não têm espaço para brincar, mas não o podem fazer na rua porque é uma zona perigosa. Não tem dinheiro para mudar de casa. Ganha 500 euros por mês, para alimentar cinco pessoas. Tem vontade de fazer mais, porque não é preguiçosa. “Os pobres são os que mais trabalham e os que são pior pagos”, afirma Domingas Augusto.
Foram estes os pobres que, esta manhã, foram ouvidos na audição pública que decorreu este Sábado, numa organização da Comissão Nacional Justiça e Paz. Situações controladas, acompanhadas, vulgares, que de um momento para o outro, se descontrolaram. “Podia acontecer-me a mim", ouvia-se na plateia que encheu o Centro Cultural Franciscano, em Lisboa para ouvir os pobres.
“A pobreza é alvo de preconceitos circulares”, explicou Maria do Rosário Carneiro, vice presidente da CNJP aos presentes na audição. “os pobres são considerados preguiçosos, incompetentes, dependentes, responsáveis pela sua situação, não credíveis e perigosos”. Razões “não fundamentadas” para gerar preconceitos. “A maioria dos pobres trabalha, tem um emprego pesado, longo e mal pago. 60 mil licenciados estão desempregados”, indica.
Manuela Silva pergunta, “será que quem promove os preconceitos consegue viver, de forma digna, com 370 euros por mês?”
Ecclesia, 08/11/2008
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