No momento final da Audição Pública, foram apresentadas as Conclusões da sessão pela Presidente da CNJP, Manuela Silva, seguidas dos discursos de encerramento proferidos pelo Ministro do Trabalho e da Solidariedade, Dr. José Vieira da Silva, e pelo Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, D. Carlos Azevedo.
Das conclusões da Audição, fazem parte, entre outras, as seguintes ideias-chave:
- Numa sociedade democrática, a pobreza configura uma situação de violação de direitos humanos fundamentais, tratando-se, pois, de um problema de cidadania.
- A pobreza na nossa sociedade não é uma fatalidade, porquanto os recursos materiais, humanos e de conhecimento, já alcançados, são suficientes para todos. Se persiste a pobreza – e até em alguns casos se agrava - , é porque a economia funciona desfocada da prioridade de satisfação das necessidades das pessoas dotadas de menor poder de compra, porque os frutos do desenvolvimento e do progresso material não se repartem com justiça, e porque a sociedade não dispõe de mecanismos para proporcionar a todos uma igualdade de oportunidades no acesso a bens essenciais e a serviços básicos de saúde, educação, habitação ou segurança.
- Consideramos a pobreza como uma violação de direitos humanos. Reconhecer esta situação deve levar à implementação de mecanismos institucionais que façam valer, em todas as circunstâncias, o direito a não ser pobre.
- Cabe ao Estado, a nível central e a nível autárquico, um papel determinante na luta contra a pobreza, através da adopção de medidas, programas e projectos direccionados para prevenir as causas geradoras da pobreza e para minimizar as suas consequências.
- Por seu turno, a sociedade civil deve apoiar e pressionar os poderes públicos e suas instituições para que adoptem e executem as medidas pertinentes, tal como desenvolver aquelas acções de proximidade para as quais nem o mercado nem o estado têm respostas satisfatórias.
- Há ainda que sensibilizar a sociedade para um sistema de valores não mercantilistas, que promova a ideia de que o desenvolvimento não se reduz ao mero crescimento económico, antes pressupõe sustentabilidade e coesão social.
- A pobreza não é uma realidade homogénea, antes assume diferentes naturezas e múltiplos rostos de que ouvimos nesta Audição testemunhos eloquentes. Assim sendo, só através de uma maior participação dos pobres na concretização das medidas e projectos que lhes são dirigidos se pode encontrar as respostas mais eficientes. Em particular, é essencial dar maior poder às mulheres, que continuam a ser discriminadas socialmente e no mercado de trabalho. O maior envolvimento e responsabilização dos pobres favorece, ainda, o combate à subsídio-dependência.
- Esta Audição trouxe múltiplos ensinamentos relativos à percepção que a população portuguesa tem acerca da pobreza e pôs em evidência que existem muitos preconceitos sobre as respectivas causas. Por exemplo, a associação da pobreza à preguiça, quando, na verdade, os pobres são, maioritariamente, trabalhadores no activo ou reformados.
- O conhecimento científico desta realidade social é, pois, indispensável para a definição e avaliação de estratégias, políticas e boas práticas. Consideramos ser urgente proceder à melhoria das estatísticas acerca das desigualdades e, em particular, acerca da pobreza.
- A erradicação da pobreza constitui também uma mais valia para as pessoas não pobres e para a sociedade no seu todo que ganha em aproveitamento de recursos humanos potenciais, em coesão social, em segurança e em qualidade de vida.
- O empenhamento em erradicar a pobreza tem levado a destacar a importância das iniciativas no âmbito da Economia Social e do Terceiro Sector, em cujo domínio importa acelerar a inovação social e para isso existem instrumentos inovadores que podem ser implementados. Por exemplo, por que não a constituição de um fundo de solidariedade constituído com base em activos bancários não reclamáveis e sua aplicação em investimentos no terceiro sector? Por que não uma academia e certificação de excelência de boas práticas na gestão do terceiro sector?
- Por último, queremos concluir com uma palavra de solidariedade para com os pobres do Mundo. O século XXI iniciou-se com a formalização de um Pacto mundial que visava reduzir significativamente a pobreza no Mundo até 2015. A avaliação feita a meio deste período mostra lacunas e défices de concretização que importa superar nos próximos anos. Esse será, seguramente, o melhor modo de celebrar o 60º aniversário da declaração Universal dos Direitos Humanos.
(leitura integral das Conclusões)
Sem comentários:
Enviar um comentário