quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Números que fazem pensar

Tal como no caso do powerpoint apresentado aquando da intervenção da Dra. Mª do Rosário Carneiro, e tornado acessível no último artigo deste blog, também aqui se colocam os dados apresentado pela Dra. Eduarda Ribeiro, num powerpoint com o título: "Números que fazem pensar".

Permite-nos este documento ver que:
  • quando falamos de pobreza, referimo-nos a quem - segundo os dados do Eurostat - se situa abaixo de um limiar de pobreza definido como sendo 60% do rendimento mediano
  • em Portugal, isto significa:
    - Para 1 pessoa só (4 386 euros anuais ou 365,5 euros mensais)
    - Para 2 adultos e 2 menores de 14 anos (9 212 euros anuais ou 767,7 euros mensais)
  • ao confrontarmos este valor com a União Europeia, tornam-se evidentes as discrepâncias, já que os valores médios europeus são praticamente o dobro:
    - Para 1 pessoa só (8 368 euros anuais ou 697,3 euros mensais)
    - Para 2 adultos e 2 menores de 14 anos (17 573 euros anuais ou 1464,4 euros mensais)
  • Portugal é o segundo país da Europa (a seguir à Lituânia) com maior desigualdade entre ricos e pobres

Aceder ao powerpoint aqui.

Aonde nos levam os preconceitos...

No powerpoint em anexo, estão os dados apresentados pela Dra. Mª do Rosário Carneiro na sua intervenção.

Com a ajuda deste powerpoint, vemos que o entendimento das causas da pobreza é pré-cientifico e subjectivo:



«Os pobres são pobres porque:

  • Preguiçosos - "Não querem fazer nada"
  • Incompetentes - "Porque abandonaram a escola"
  • Dependentes - "E quem depende é quase sempre incompetente"
  • Responsáveis pela sua situação
  • Não credíveis - "O que torna prioritário o combate à fraude"
  • Perigosos - "Porque inevitavelmente reproduzem comportamentos associados"
  • Pertencentes a minorias »

De facto, como podemos ver a seguir, este entendimento é claramente não fundamentado:

  • «A maioria dos pobres trabalha, está desempregada ou já está reformada – só cerca de 27% é inactiva
  • Têm trabalhos pesados, longos e mal remunerados
    (Múltiplos trabalhos, mal remunerados, impossibilidade de pouparem, impossibilidade de adquirirem mais competências para acederem a trabalhos mais bem remunerados,…)
  • Das 126.621 famílias apoiadas pelo RSI (Rendimento Social de Inserção), só 44.780 não têm mais nenhum rendimento
  • 60 mil licenciados desempregados, dificilmente poderão ser considerados como incompetentes, bem como os milhares de trabalhadores que passaram por acções de formação profissional integradas no âmbito do RSI
  • 92% das acções de micro crédito são marcadas pelo sucesso, o que significa que os pobres, afinal, são credíveis»

Aceder ao powerpoint aqui.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

AS CONCLUSÕES DA AUDIÇÃO

No momento final da Audição Pública, foram apresentadas as Conclusões da sessão pela Presidente da CNJP, Manuela Silva, seguidas dos discursos de encerramento proferidos pelo Ministro do Trabalho e da Solidariedade, Dr. José Vieira da Silva, e pelo Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, D. Carlos Azevedo.
Das conclusões da Audição, fazem parte, entre outras, as seguintes ideias-chave:
  • Numa sociedade democrática, a pobreza configura uma situação de violação de direitos humanos fundamentais, tratando-se, pois, de um problema de cidadania.

  • A pobreza na nossa sociedade não é uma fatalidade, porquanto os recursos materiais, humanos e de conhecimento, já alcançados, são suficientes para todos. Se persiste a pobreza – e até em alguns casos se agrava - , é porque a economia funciona desfocada da prioridade de satisfação das necessidades das pessoas dotadas de menor poder de compra, porque os frutos do desenvolvimento e do progresso material não se repartem com justiça, e porque a sociedade não dispõe de mecanismos para proporcionar a todos uma igualdade de oportunidades no acesso a bens essenciais e a serviços básicos de saúde, educação, habitação ou segurança.

  • Consideramos a pobreza como uma violação de direitos humanos. Reconhecer esta situação deve levar à implementação de mecanismos institucionais que façam valer, em todas as circunstâncias, o direito a não ser pobre.

  • Cabe ao Estado, a nível central e a nível autárquico, um papel determinante na luta contra a pobreza, através da adopção de medidas, programas e projectos direccionados para prevenir as causas geradoras da pobreza e para minimizar as suas consequências.

  • Por seu turno, a sociedade civil deve apoiar e pressionar os poderes públicos e suas instituições para que adoptem e executem as medidas pertinentes, tal como desenvolver aquelas acções de proximidade para as quais nem o mercado nem o estado têm respostas satisfatórias.

  • Há ainda que sensibilizar a sociedade para um sistema de valores não mercantilistas, que promova a ideia de que o desenvolvimento não se reduz ao mero crescimento económico, antes pressupõe sustentabilidade e coesão social.

  • A pobreza não é uma realidade homogénea, antes assume diferentes naturezas e múltiplos rostos de que ouvimos nesta Audição testemunhos eloquentes. Assim sendo, só através de uma maior participação dos pobres na concretização das medidas e projectos que lhes são dirigidos se pode encontrar as respostas mais eficientes. Em particular, é essencial dar maior poder às mulheres, que continuam a ser discriminadas socialmente e no mercado de trabalho. O maior envolvimento e responsabilização dos pobres favorece, ainda, o combate à subsídio-dependência.

  • Esta Audição trouxe múltiplos ensinamentos relativos à percepção que a população portuguesa tem acerca da pobreza e pôs em evidência que existem muitos preconceitos sobre as respectivas causas. Por exemplo, a associação da pobreza à preguiça, quando, na verdade, os pobres são, maioritariamente, trabalhadores no activo ou reformados.

  • O conhecimento científico desta realidade social é, pois, indispensável para a definição e avaliação de estratégias, políticas e boas práticas. Consideramos ser urgente proceder à melhoria das estatísticas acerca das desigualdades e, em particular, acerca da pobreza.

  • A erradicação da pobreza constitui também uma mais valia para as pessoas não pobres e para a sociedade no seu todo que ganha em aproveitamento de recursos humanos potenciais, em coesão social, em segurança e em qualidade de vida.

  • O empenhamento em erradicar a pobreza tem levado a destacar a importância das iniciativas no âmbito da Economia Social e do Terceiro Sector, em cujo domínio importa acelerar a inovação social e para isso existem instrumentos inovadores que podem ser implementados. Por exemplo, por que não a constituição de um fundo de solidariedade constituído com base em activos bancários não reclamáveis e sua aplicação em investimentos no terceiro sector? Por que não uma academia e certificação de excelência de boas práticas na gestão do terceiro sector?

  • Por último, queremos concluir com uma palavra de solidariedade para com os pobres do Mundo. O século XXI iniciou-se com a formalização de um Pacto mundial que visava reduzir significativamente a pobreza no Mundo até 2015. A avaliação feita a meio deste período mostra lacunas e défices de concretização que importa superar nos próximos anos. Esse será, seguramente, o melhor modo de celebrar o 60º aniversário da declaração Universal dos Direitos Humanos.


(leitura integral das Conclusões)

domingo, 9 de novembro de 2008

São estes os pobres - como decorreu a Audição

A audição decorreu com grande sucesso no Centro Cultural Franciscano, para uma plateia que excedeu a própria lotação do auditório, tendo muitas pessoas de ficar de pé.
Sigamos um dos artigos que a Ecclesia publicou a propósito da audição:

Audição pública «Dar voz aos pobres para erradicar a pobreza» juntou sociedade civil, políticos e igreja para reflexão conjunta sobre pobreza


Teresa Mota Costa, 42 anos, vive em lutas burocráticas diárias com a Segurança Social. Desempregada, tem a seu cargo dois filhos. Um deles, o André de 15 anos, tem paralisia cerebral. Vive sempre no limite, pois não tem dinheiro suficiente para elevados encargos. Não tem créditos porque também não tem dinheiro. Arrenda uma casa e, com a ajuda do seu marido, taxista, vão fazendo face a batalhas diárias, agravadas por situações financeiras de familiares.
Marisa Correia e Ana Ribeiro, ambas sociólogas, trabalham na Rede Social de Loures, como funcionárias a recibos verdes. Não têm subsídio de Natal, de férias, de alimentação ou transportes. Não têm direito a seguros, subsídio de desemprego ou a indemnizações. Trabalham a tempo inteiro, com funções a tempo inteiro, num posto de trabalho fixo, que apesar de a recibos verdes, não é temporário, mas permanente. As duas técnicas são obrigadas a descontar do seu ordenado 20% para o IVA, a fazer 20% de retenção na fonte e a pagar, mensalmente, 150 euros à segurança social.
Pedro Jorge Santos fala de uma pobreza diferente. Toxicodependente, foi marginalizado e sentiu-se sem auto estima durante muitos anos. Há cinco anos que trabalha junta da instituição que lhe deu voz e se interessou por ele, a Comunidade Vida e Paz. Mais do que a ajuda financeira aponta a importância dos afectos e da atenção, e foram esses sentimentos que lhe salvaram a vida.
Domingas Augusto é guiniense, mãe de três filhos e responsável por um enteado. Alugava uma casa, e o seu companheiro tinha a responsabilidade de pagar 400 euros de renda mensal. Mas não o fazia. Com dívidas acomuladas, deixou-a. Foi despejada da sua casa e teve de resolver a sua vida e a dos filhos ao seu encargo. Alugou uma casa pequena, onde as quatro crianças não têm espaço para brincar, mas não o podem fazer na rua porque é uma zona perigosa. Não tem dinheiro para mudar de casa. Ganha 500 euros por mês, para alimentar cinco pessoas. Tem vontade de fazer mais, porque não é preguiçosa. “Os pobres são os que mais trabalham e os que são pior pagos”, afirma Domingas Augusto.

Foram estes os pobres que, esta manhã, foram ouvidos na audição pública que decorreu este Sábado, numa organização da Comissão Nacional Justiça e Paz. Situações controladas, acompanhadas, vulgares, que de um momento para o outro, se descontrolaram. “Podia acontecer-me a mim", ouvia-se na plateia que encheu o Centro Cultural Franciscano, em Lisboa para ouvir os pobres.
“A pobreza é alvo de preconceitos circulares”, explicou Maria do Rosário Carneiro, vice presidente da CNJP aos presentes na audição. “os pobres são considerados preguiçosos, incompetentes, dependentes, responsáveis pela sua situação, não credíveis e perigosos”. Razões “não fundamentadas” para gerar preconceitos. “A maioria dos pobres trabalha, tem um emprego pesado, longo e mal pago. 60 mil licenciados estão desempregados”, indica.
Manuela Silva pergunta, “será que quem promove os preconceitos consegue viver, de forma digna, com 370 euros por mês?”

Ecclesia, 08/11/2008

(ler todo o artigo)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Mobilizar todos para esbater as diferenças

A sociedade portuguesa é muito desigual e implacável para com os mais desprotegidos.

Como os mecanismos que alimentam a desigualdade não foram ainda corrigidos e, muito menos, desligados, a diferença entre os que têm e os que não têm não se esbateu ao longo dos últimos anos, pelo contrário, agravou-se em muitos aspectos.
(...)
A nossa acção tem de ser tão completa quanto possível. Não podemos ajudar os pobres sem implicar os ricos, não podemos melhorar as condições de alojamento sem pensarmos numa acção fortemente solidária na criação de empregos, não podemos procurar criar uma sociedade mais justa sem combater com determinação a ilicitude.

(...) Só assim as duas “partes” da nossa sociedade se ajudarão a destruir as barreiras que actualmente as separam tornando-a menos desigual e mais solícita para com os desprotegidos.

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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A crise e os pobres

«As crises financeiras que se sucedem têm um efeito de cascata que afecta profundamente a economia mundial e as populações mais frágeis. Mostram que a finança é um factor chave da globalização.»

Palavras do Arcebispo de Rouen, Jean-Charles Descubes no documento O carácter multifacetado das crises financeiras, onde elenca diversas questões pertinentes para a discussão sobre «o futuro da protecção social e da política social na Europa», tema do último encontro da Comissão dos Assuntos Sociais da COMECE:
  • Esta crise é tão injusta como o tipo de desenvolvimento dos últimos vinte anos. Uma vez mais, voltam a ser os pobres que mais sofrem. Como fazer para os proteger?

  • A subida das matérias-primas deveria favorecer os países produtores, alguns dos quais são países emergentes. Mas como organizar uma justa repartição das riquezas?

  • A vida humana está em questão quando se fala de bens destinados à alimentação. Dada a sua natureza, devem ser particularmente protegidos. Não se deveriam mesmo proibir certas actividades financeiras, para que eles não sejam objecto de especulação?

  • As crises financeiras questionam o nosso estilo de vida, não podemos querer continuar a viver como se nada se passasse ao nosso lado: para quando a adopção de um modo de vida mais despojado, mais simples, mais conforme às exigências da solidariedade no mundo de hoje?

(ler todo o artigo)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

LEVANTA-TE E ACTUA - DIA 17 DE OUTUBRO

Já estão inscritas dezenas de escolas e milhares de pessoas para a grande mobilização nacional de 17 de Outubro, Dia Mundial para a erradicação da pobreza.

Esta acção internacional tem mobilizado milhares de pessoas por todo o Mundo. Em 2007, mais de 43 milhões de pessoas levantaram-se para exigir aos líderes mundiais que cumpram as suas promessas para acabar com a pobreza e desigualdade. Portugal contribuiu com mais de 65 mil vozes nesta iniciativa e este ano esperamos atingir 1 milhão de portugueses.

O objectivo não é simplesmente quebrar um record do Guiness, mas mobilizar a sociedade civil. Atrair atenções, alertar consciências, manifestar que estamos contra os números que não param de aumentar: 50 mil pessoas morrem de pobreza extrema diariamente!

É importante que todas as pessoas se manifestem e para actuar basta um minuto do seu tempo, um gesto simbólico. O convite que fazemos é que, individualmente, ou dentro da sua área de influência, possa dinamizar uma acção "Levanta-te" entre os dias 17 e 19 de Outubro.


A mensagem central da Campanha Levanta-te é a de que os governos não podem ignorar o apelo das pessoas pelo fim da pobreza.

A sociedade civil está chocada com a pobreza e desigualdade globais – mais e mais pessoas recusam-se a permanecer quietas diante da injustificável falta de acção dos líderes.


(ler artigo completo)

(site da campanha)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Carta Aberta contra a Pobreza e a Desigualdade

Aproxima-se o Dia Mundial pela Erradicação da Pobreza (17 de Outubro) e a Comissão Nacional Justiça e Paz une a sua voz à de numerosas entidades que assinaram recentemente esta carta aberta:

Diariamente as televisões mostram imagens de guerra, destruição e fome. Em África morre uma criança a cada 3 segundos, vítima da fome, da malária ou da tuberculose.

O Banco Mundial define a pobreza extrema como viver com menos de 1 dólar por dia. Todos os dias mais de mil milhões de pessoas vivem nestas condições de miséria deplorável. Em Portugal uma em cada cinco pessoas vive no limiar da pobreza.

(...) Todos os dias é violada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A paz e a fraternidade entre os povos nem sempre estão no coração e nas acções quotidianas.

Numa época em que assistimos à revolução tecnológica, um terço da população mundial nunca usou um telefone.

(...) Para cada problema existe uma oportunidade. A luta contra a pobreza e a desigualdade deve ser um compromisso colectivo e prioritário para que cada homem e cada mulher possam viver em paz e liberdade e usufruam de direitos fundamentais numa sociedade mais justa e solidária.

Erradicar a pobreza não é um mero exercício intelectual ou uma utopia política ou religiosa. Esta é a primeira geração que tem os recursos e os meios para acabar com a fome e a miséria.

É preciso lembrar os políticos das promessas públicas assumidas pelos 189 Estados-Membros das Nações Unidas quando assinaram, em Setembro de 2000, a Declaração do Milénio e se comprometeram a reduzir para metade a pobreza extrema até 2015.
(...) Os pobres não precisam de esmolas, mas de justiça.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Pobreza iminente

Uma das situações de pobreza iminente é o Desemprego. É uma realidade que tem estado a aumentar no nosso país. Esta realidade deixa muitas pessoas sem fonte de rendimentos.
A actual crise financeira e económica, em que os bancos têm demonstrado problemas de liquidez, provoca uma forte subida das taxas de juro. Estes factos têm levado as empresas a entrar em maiores dificuldades para recorrer ao crédito, com maior selecção dos clientes por parte dos bancos, maiores dificuldades de tesouraria. Por conseguinte, maior tendência para mais situações de salários em atraso e situações de desemprego.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

POBREZA, VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Tem-se afirmado que sair da pobreza não pode ser algo a que se tem direito sem esforço pessoal e que a definição da pobreza como violação dos direitos humanos pode conduzir a um paternalismo desresponsabilizante.
Subjacente a esta crítica está, mais ou menos veladamente, a ideia de que, no fundo, a pobreza é uma opção ou o resultado de características pessoais negativas, como a falta de qualidades de laboriosidade ou iniciativa. Inúmeros estudos revelam, pelo contrário, que a pobreza como fenómeno social decorre de disfunções e injustiças do sistema socio-económico.
Definir a pobreza como violação dos direitos humanos significará, assim, eliminar essas disfunções e injustiças, criar condições para que o pobre possa fazer o que está ao seu alcance para se libertar da pobreza. Não se trata, pois, de o desresponsabilizar, ou de o dispensar de trabalhar quando para tal tem capacidade. O que se verifica é que essas condições para o pobre se libertar da pobreza não estão reunidas no actual contexto e o sistema é um obstáculo ao sucesso de qualquer esforço nesse sentido. Há que remover esse obstáculo e é isso que a definição da pobreza como violação de direitos humanos implica.

sábado, 20 de setembro de 2008

Testemunhos que nos interpelam

«Agora tornei-me uma pessoa mais confiante, positiva, organizada, divertida, uma melhor mãe… sou uma pessoa diferente, não apenas por causa da prestação em si … vou estudar, pois muito daquilo que seremos no futuro está no estudo e num emprego».


«Estava no lixo, agora tenho um emprego».


«O RSI mudou as nossas vidas principalmente para os meus filhos que continuaram a estudar proporcionando assim um futuro melhor»




in "Rendimento Social de Inserção - 10 anos de Direito", edição especial de Janeiro de 2008 da Revista "CAMINHOS"
(publicação do Instituto de Acção Social dos Açores)

O Rendimento Social de Inserção – pontos de vista diferentes.

Para além de acudir a situações muito graves de carência de recursos, o RSI tem também um impacto potencial sobre a redução da transmissão inter-geracional da pobreza. Com efeito, para além da melhoria das condições de vida dos beneficiários e do reforço da sua auto-estima, criam-se condições para uma melhor formação e acesso a uma profissão e – nunca é demais salientá-lo – para que os filhos possam ter maior sucesso escolar.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A pobreza entre os trabalhadores

Um correcto entendimento acerca das causas da pobreza é condição necessária para definir as políticas destinadas a combatê-la eficazmente.

A percepção que as sociedades têm acerca desta questão reflecte, muitas vezes, os seus preconceitos: é entre nós a ideia de que entrar no mercado de trabalho, «arranjar» um emprego, ou, mais recentemente, «criar o seu próprio emprego», permite, por si só, sair da pobreza. Pobreza e preguiça aparecem na opinião pública – com demasiada frequência – associadas. É o que demonstram inquéritos à opinião pública efectuados na União Europeia (Eurobarómetro 2006).

No entanto, a recente publicação de um estudo efectuado por uma equipa de investigadores do CESIS-Centro de Estudos para a Intervenção Social (Alfredo Bruto da Costa, coord., Isabel Baptista, Pedro Perista e Paula Carrilho - Ed. Gradiva, 2008) oferece-nos um quadro bem diferente e esclarecedor acerca da composição da população pobre.

Partindo de dados estatísticos de 2004, complementados com um Inquérito Directo do INE aos agregados pobres, lançado em 2006, constata-se que a esmagadora maioria dos pobres (80%) trabalha efectivamente. Encontram-se aí os trabalhadores, por conta de outrem ou por conta própria, os reformados e os/as domésticos/as.
(...) Confirma-se assim que a pobreza em Portugal atinge fortemente a sua população trabalhadora, já que nem todo o trabalho assegura as condições mínimas de uma certa independência económica.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Dar voz e poder aos pobres

Onde se situam as razões para o fracasso de décadas em que, um pouco por toda a parte, se promoveram programas de luta contra a pobreza?

Queremos aqui ressaltar apenas um dos factores explicativos: a voz dos pobres não se faz ouvir com intensidade suficiente e o poder de que dispõem está muito longe do necessário para fazerem valer os seus direitos.

(...) Incentivar e formar os pobres para desenvolverem as suas iniciativas e para o exercício do poder é uma obrigação dos não pobres, tantas vezes não assumida, quer pelos poderes públicos, quer pela sociedade civil. É o que sucede, por exemplo, quando, na elaboração de programas de combate à pobreza, se privilegia um conjunto de acções definidas a partir do topo, as quais dificilmente se ajustam às múltiplas realidades dos empobrecidos e desprezam as suas próprias capacidades.

(...) A participação activa e informada dos pobres na formulação, execução e acompanhamento das estratégias que os elegem como alvo, é uma aspiração que encontra fundamento no direito à participação expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos no seu artigo 21º – “todos têm direito a participar no governo do seu país, directamente ou por representantes eleitos” (...).

Compreende-se assim que a noção de empoderamento (empowerment) tenha vindo a ganhar crescente importância, nomeadamente, no seio de organizações internacionais com acção relevante no combate à pobreza no mundo em desenvolvimento, como é o caso do P.N.U.D. e, também, do Banco Mundial que a define como “a expansão dos recursos e das capacidades das pessoas pobres para participarem em, negociarem com, influenciar, controlar e tornar responsáveis as instituições que afectam as suas vidas”.

(ler todo o artigo)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Um blog para divulgar a Audição

1.Contextualização

Existe cada vez mais a convicção de que a pobreza deve ser tida como uma violação de direitos humanos fundamentais, designadamente o direito à vida ou o direito à liberdade. Nas actuais condições de desenvolvimento económico, conhecimento científico e progresso tecnológico, é intolerável, do ponto de vista ético e de critérios de cidadania e vida democrática, que continue a verificar-se a persistência de elevado número de cidadãos e cidadãs do nosso País a viver em situação de pobreza severa ou sofrendo privações graves em relação ao estilo de vida corrente.
A CNJP tem estado empenhada em contribuir para a erradicação da pobreza, através das mediações ao seu alcance. A Conferência realizada em Maio 2007 e cujos trabalhos estão agora publicados em livro (Pobreza, direitos humanos e cidadania, ed. Cidade Nova, 2007) constitui um marco neste empenhamento tendo terminado com a publicação de um Manifesto. Na sequência desta acção, foi lançada a subscrição de uma petição pública a qual foi entregue na Assembleia da República, em 17 de Outubro último, com cerca de 23 mil assinaturas. A 3 de Julho, o conteúdo dessa petição foi discutido em plenário e assumido integralmente pela Assembleia da República como base para o projecto de resolução 348/X, aprovado por unanimidade, que reconhece a pobreza como uma violação dos direitos humanos e se propõe definir «um limar de pobreza» que «sirva de referência obrigatória à definição e à avaliação das políticas públicas» para combater o fenómeno em Portugal.
A reflexão que vimos fazendo leva-nos a pensar que, para além da mobilização dos necessários recursos no sentido do reforço das políticas sociais, necessário se torna inscrever a erradicação da pobreza em todas as políticas públicas, a começar pela política macroeconómica, as políticas de emprego e de formação profissional, transportes e demais serviços de utilidade social, habitação e urbanismo, saúde, educação ou cultura. Ainda assim, ficará a descoberto uma área da maior importância, a saber: vencer a barreira do desconhecimento e do preconceito entre pobres e não-pobres, sendo certo que estes condicionam o êxito dessas políticas.
Persistem na nossa sociedade alguns estereótipos que entravam uma acção mais decisiva na superação da pobreza e das suas causas que só uma melhor escuta dos pobres poderá ajudar a dissipar. Por outro lado, da parte dos pobres têm faltado oportunidades para poderem expressar as suas vivências, dificuldades, aspirações e potencialidades e ganharem visibilidade como sujeitos de direitos e deveres de cidadania.

2.Objectivo

Ao promover esta audição pública, a CNJP pretende convocar pobres e não-pobres para uma reflexão conjunta com vista à desconstrução dos preconceitos acerca da pobreza e, por essa via, contribuir para fomentar uma cultura de justiça, de solidariedade e de coesão social. É nossa intenção reunir na mesma mesa as pessoas que vivem ou viveram situações de pobreza e os responsáveis pelas políticas públicas e pelas organizações de solidariedade social, investigadores, e gente da cultura e da comunicação social.

quarta-feira, 9 de julho de 2008